Anselmo nasceu em Aosta, Itália, juntou-se à Abadia Beneditina de Bec na Normandia e, posteriormente, tornou-se Arcebispo de Cantuária, sendo canonizado em 1494.
Além de Erigena, Anselmo foi o primeiro pensador sistemático da Idade Média. Enfrentando as dificuldades dos dialéticos de seu tempo com a célebre fórmula “uma fé em busca da compreensão”, ele não estava disposto a substituir a dialética pela teologia, mas ainda assim insistia em uma apresentação racional da crença cristã tradicional.
O argumento ontológico de Anselmo
Seus escritos filosóficos foram uma resposta a um pedido de alguns de seus monges para uma meditação sobre a existência e a natureza de Deus com base na razão e não na autoridade das escrituras. No Monologion ele começa com nossa experiência de qualidades em graus de valor, bondade e ser nos objetos ao nosso redor. A partir disso, ele argumenta para a existência necessária de um padrão absoluto, um bem absoluto, um ser absoluto do qual o relativo depende; esse absoluto, afirma ele, é o que chamamos de Deus. A argumentação segue um método platônico já utilizado por Agostinho, e que seria posteriormente elaborado por Tomás de Aquino.
No Proslogion, Anselmo apresenta seu famoso argumento ontológico. Podemos, diz ele, começar com nada mais do que a ideia comumente aceita do que queremos dizer com o termo Deus, ou seja, um ser do qual nada maior pode ser pensado. Este, diz ele, é um ponto de partida acessível até para o tolo que, de acordo com as escrituras, nega a existência de Deus. Pode-se dizer que tal ser existe na mente. Mas existir realmente é mais perfeito do que existir na mente. Negar a existência real de Deus, então, é cair em total contradição. Se Deus é o ser do qual nada maior pode ser pensado, ele deve existir na realidade tanto quanto na mente.
A objeção de Gaunilo contra o argumento
O argumento do Proslogion imediatamente suscitou controvérsia e continua a dividir os filósofos até hoje. O monge Gaunilo escreveu um livro atacando a validade da conclusão e argumentando que raciocínio semelhante poderia ser usado para estabelecer a “existência” de qualquer coisa, por exemplo, uma ilha mais perfeita. Em sua resposta, Anselmo apontou que o argumento só pode funcionar no caso único do mais excelente de todos os seres.
Na Idade Média, os franciscanos tendiam a aceitar o argumento, embora Duns Escoto exigisse que fosse demonstrado que a natureza de Deus não é autocontraditória. Tomás de Aquino, por outro lado, o rejeitou. Descartes aceitou o argumento; Leibniz, como Escoto, exigia que a possibilidade de Deus fosse considerada; e Kant rejeitou.